Trovadorismo
Os historiadores costumam limitar o Trovadorismo
entre os anos de 1189 ou 1198 e 1385. O Trovadorismo corresponde à primeira
fase da história portuguesa ao período da formação de Portugal como reino
independente. É o período literário que reúne basicamente os poemas feitos
pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante
os últimos séculos da Idade Média. É contemporâneo às lutas pela independência
e ao surgimento do Estado português e à dinastia de Borgonha,
O trovadorismo é
o conjunto das manifestações literárias contemporâneas à primeira dinastia de
Borgonha (1109-1385) Alguns aspectos da história da Península Ibérica são
importantes para entendermos certas características das manifestações literárias
desse período:
a) O feudalismo, já em declínio, terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia amorosa, como veremos adiante. As cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária.
b) A reconquista do território, dominado pelos
árabes desde o século VIII, faz prolongar, na nobreza ibérica, o espírito
guerreiro e aventureiro das Cruzadas. Daí o gosto tardio em Portugal pelas
novelas de cavalaria.
c) Por último, o profundo espírito religioso
medieval e teocêntrico refletirá tanto nas já citadas novelas de cavalaria como
na poesia de temática religiosa (Cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X) e nas
hagiografias (vidas de santos) e obras de devoção.
Na lírica
medieval, os trovadores eram os artistas de origem nobre, que compunham e
cantavam, com o acompanhamento de instrumentos musicais, as cantigas (poesias
cantadas). Estas cantigas eram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos
como Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas três Cancioneiros. São eles:
“Cancioneiro da Biblioteca”, “Cancioneiro da Ajuda” e “Cancioneiro da
Vaticana”.
O mesmo subdivide-se em três categorias: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer.
O mesmo subdivide-se em três categorias: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer.
Cantigas de Maldizer:
através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a
agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da
pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.
Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.
Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).
Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.
Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.
Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).
Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.
Os trovadores de maior
destaque na lírica galego-portuguesa são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de
Taveirós, D. Afonso X, Frei João Álvares, Gomes Eanes de
Zurara, Fernão Lopes.
D. Duarte
D. Duarte foi o décimo primeiro rei de
Portugal e o segundo da segunda dinastia. D. Duarte foi um rei dado às letras,
tendo feito a tradução de autores latinos e italianos e organizando uma
importante biblioteca particular. Ele próprio nas suas obras mostra
conhecimento dos autores latinos.
D. Dinis
Dom Dinis, o Trovador, foi um rei importante
para Portugal, sua lírica foi de 139 cantigas, a maioria de amor, apresentando
alto domínio técnico e lirismo, tendo renovado a cultura numa época em que ela
estava em decadência em terras ibéricas.
Paio Soares Taveirós
Paio Soares Taveiroos (ou Taveirós) era um
trovador da primeira metade do século XIII. De origem nobre, é o autor da
Cantiga de Amor A Ribeirinha, considerada a primeira obra em língua galaico-portuguesa.
D. Afonso X
D. Afonso X, o Sábio, foi rei de Leão e
Castela. É considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda
metade do século XIII. Acolheu na sua corte e trovadores, tendo ele próprio
escrito um grande número de composições em galaico-português que ficaram
conhecidas como Cantigas de Santa Maria. Promoveu, além da poesia, a
historiografia, a astronomia e o direito, tendo elaborado aGeneral
Historia, a Crônica de España, Libro de los Juegos, Las Siete
Partidas, Fuero Real, Libros del Saber de Astronomia, entre outras.
Fernão Lopes
Fernão Lopes é considerado o maior
historiógrafo de língua portuguesa, aliando a investigação à preocupação pela
busca da verdade. D. Duarte concedeu-lhe uma tença anual para ele se dedicar à
investigação da história do reino, devendo redigir uma Crônica Geral do
Reino de Portugal. Correu a província a buscar informações, informações estas
que depois lhe serviram para escrever as várias crônicas (Crônica de D. Pedro
I, Crônica de D. Fernando, Crônica de D. João I, Crônica de
Cinco Reis de Portugal e Crônicas dos Sete Primeiros Reis de
Portugal). Foi “guardador das escrituras” da Torre do Tombo.
Frei João Álvares
Frei João Álvares a pedido do Infante D.
Henrique, escreveu aCrônica do Infante Santo D. Fernando. Nomeado abade do
mosteiro de Paço de Sousa, dedicou-se à tradução de algumas obras pias:Regra de
São Bento, os Sermões aos Irmãos do Ermo atribuídos a Santo Agostinho
e o livro I da Imitação de Cristo.
Gomes Eanes de Zurara
Gomes Eanes de Zurara, filho de João Eanes
de Zurara. Teve a seu cargo a guarda da livraria real, obtendo em 1454 o cargo
de “cronista-mor” da Torre do Tombo, sucedendo assim a Fernão Lopes. Das
crônicas que escreveu destacam-se: Crônica da Tomada de
Ceuta, Crônica do Conde D. Pedro de Meneses, Crônica do Conde D.
Duarte de Meneses e Crônica do Descobrimento e Conquista de Guiné.
Agora veremos algumas cantigas de gêneros
diferentes que se destacou no trovadorismo:
Canção de amor
D. Dinis
D. Dinis
Quer’eu em
maneira de proença!
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar lmia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar lmia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual
Ca mia senhor
nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad’e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
mais pôs i prez e beldad’e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
Canção de amigo
Martim Codax
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar
levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu
amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu
amado,
por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo!
por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo!
CANTIGA
DE ESCÁRNIO:
Pero Larouco
De vós, senhor,
quer’eu dizer verdade
e nom ja sobr’[o] amor que vos ei:
senhor, bem [moor] é vossa torpicidade
de quantas outras eno mundo sei;
assi de fea come de maldade
nom vos vence oje senom filha dum rei
[Eu] nom vos amo nem me perderei,
u vos nom vir, por vós de soidade (...)
e nom ja sobr’[o] amor que vos ei:
senhor, bem [moor] é vossa torpicidade
de quantas outras eno mundo sei;
assi de fea come de maldade
nom vos vence oje senom filha dum rei
[Eu] nom vos amo nem me perderei,
u vos nom vir, por vós de soidade (...)
CANTIGA DE MALDIZER:
João Garcia de
Ghilhade
Ai, dona fea,
fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se
Deus mi pardom,
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca
vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Por fim, São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a
origem do trovadorismo: a tese arábica,
que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada
pelo próprio povo; a tese médio-latinista,
segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida
durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica,
que a considera fruto da poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia,
nenhuma das teses citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de
aceitá-las conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes dessa
poesia.
http://www.algosobre.com.br/literatura/trovadorismo
Moisés, Massaud,
1928- a literatura portuguesa através dos textos/ 30. Ed. São Paulo: Cultrix,
2006.
wWW.portaldaleitura.com/livros.php
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